sexta-feira, 25 de julho de 2014

Carolina Maria de Jesus. Uma Candace na periferia.

Em 2014 comemora-se o centenário de Carolina Maria de Jesus. Embora seu aniversário tenha sido em 14 de março, as homenagens a ela e sua obra continuam ao longo do ano. E nada mais justo do que, no Dia Nacional da Mulher Negra, prestarmos reverência a esta Candace mineira, a mulher forte que mostra em sua literatura o que a força da mulher à margem, da mãe, da artista e da amante.

Amanhã, 26 de julho, às 10:30 o Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca realizará a exibição inédita do documentário “Favela: a vida na pobreza”, da diretora alemã Christa Gottmann, que mostra a escritora negra Carolina de Jesus, na década de 70, e em seguida, serão exibidos os curtas “Vidas de Carolina”, de Jéssica Queiroz, e “Carolina”, de Jeferson De.
 Após a exibição haverá debate com a participação da diretora Jéssica Queiroz e da atriz Débora Garcia, do filme “Vidas de Carolina”, e de Vera Eunice de Jesus (filha de Carolina de Jesus), sob a mediação de Jéssica Cerqueira, da AfroeducAÇÃO.

Moradora da favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, Carolina torna-se famosa no meio literário com sua obra Quarto de Despejo, publicado em 1960.  Publicou também o romance Pedaços de Fome e o livro Provérbios, ambos em 1963. Após sua morte, em 1977, foram publicados o Diário de Bitita; Um Brasil para Brasileiros (1982); Meu Estranho Diário; e Antologia Pessoal (1996).


Na sequência, compartilhamos um trecho da obra Quarto de Depejo:

" 31 de dezembro [de 1958]:

(…)

Quando a noite surgiu, ele veio. Disse que quer estabelecer, porque quer pôr os filhos na escola. Que ele é viúvo e gosta muito de mim. Se eu quero viver ou casar com ele.

Ele me abraçou e me beijou. Contemplei a sua boca adornada de ouro e platina. Trocamos presentes. Eu lhe dei doces e roupas para os seus filhos e ele me deu pimenta e perfumes. A nossa palestra foi sobre arte e música.

Ele me disse que se eu casar com ele que me retira da favela. Lhe disse que é poética a existência andarilha.

Ele me disse que o amor de cigano é imenso igual o mar. É quente igual o sol.

Era só o que me faltava. Depois de velha virar cigana. Entre eu e o cigano existe uma atração espiritual. Ele não queria sair do meu barraco. E se eu pudesse não lhe deixava sair. Lhe convidei para vir ouvir o rádio. Ele me perguntou se sou sozinha. Respondi que eu tenho uma vida confusa igual um quebra-cabeça. Ele gosta de ler. Dei livros para ele ler. (…) "

Mais informações sobre a exibição: Ano Centenário Carolina Maria de Jesus
E sobre Carolina Maria de Jesus: 
http://www.revistabrasileiros.com.br/2014/03/14/os-cadernos-de-carolina/#.U9KtneNdXps
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-03/brasil-lembra-centenario-de-escritora-que-definiu-favela-como-quarto-de


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